Mesmo antes de chegar na terceira idade sempre me interessei por este
assunto e observava bastante o comportamento dos "mais velhos".
Agora que estou em plena "terceira idade" com quase
65 anos, comecei a fazer leituras específicas sobre este último estágio da
vida.
Antes de transcrever textos que tenho pesquisado quero
expressar como me sinto convivendo com toda esta rica experiência de 64 anos
vividos e bem vivenciados!
(Vivenciado -Viver determinado momento de modo
que o mesmo tenha um significado profundo).
Sinto-me jovem, não fisicamente, mas
mentalmente, porque tenho vontade de viver de maneira intensa, sempre querendo
conhecer coisas novas, lugares diferentes. Gosto muito de ler, fazer atividades
físicas, artes manuais. Tenho interesse no aprendizado constante e sempre digo
que queria ser "três em uma" para poder realizar tantas coisas que
tenho vontade! Isto são sintomas de velhice? Não!
Os textos que vou redigir são extraídos de uma
coleção "A Terceira Idade" do Sesc que contém vários artigos sobre a
valorização da pessoa idosa e vieram bem de encontro com as minhas ideias e
concepções sobre este assunto.
"Existem pessoas que têm mais
de 70 anos, aparência e vitalidade de 50 e vice-versa. Dependendo da época em
que viveram sua infância e juventude, de seu estilo de vida, educação e maneira
peculiar como estruturaram seu curso de vida, diferentes pessoas envelhecem de
maneiras diferentes.
Outra noção importante é que a velhice não é um período caracterizado
só por perdas e limitações. Embora aumente a probabilidade de doenças e
limitações biológicas, é possível manter e aprimorar a funcionalidade nas áreas
física, cognitiva e afetiva.
Dominar o segredo da arte de viver, julgar com precisão, aconselhar em
decisões que envolvem as incertezas da vida é algo que está reservado
especificamente aos idosos (muito embora a idade em si própria não garanta o
alcance de altos níveis de sabedoria por todos os indivíduos).
A idade do início da velhice é uma questão que não comporta um critério
único e invariável, no tempo ou entre culturas. Além disso, a antropologia do
envelhecimento tem chamado a atenção para o fato de a sociedade de consumo
promover um mascaramento dos limites etários, uniformizando roupas, programas
televisivos e estilo de vida, a partir de um padrão definido e valorizado como
jovem.
Schroots e Birren (1990) apresentam uma tríplice visão do
envelhecimento, que contempla as influências biológicas, sociais e psicológicas
atuantes sobre o desenvolvimento humano. Segundo esses autores é necessário
distinguir entre a senescência, a maturidade
social e o envelhecimento.
A senescência é referente ao
aumento da probabilidade da morte, com o avanço da idade. A maturidade social corresponde à
aquisição de papéis sociais e de comportamentos apropriados aos diversos e
progressivos grupos etários. O envelhecimento
corresponde ao processo de autorregulação da personalidade, e é inerente aos
processos de senescência e maturidade social, todos os três referenciados e
simbolizados pelo tempo dos calendários e a idade cronológica.
A idade cronológica é, portanto, um parâmetro adotado pelas disciplinas
do desenvolvimento, que se movem entre várias noções de tempo: físico,
biológico, ecológico, social, psicológico e intrínseco.
Na verdade, estamos diante de um dos grandes desafios da psicologia do
envelhecimento, o de conciliar os conceitos de envelhecimento e desenvolvimento
na velhice, bem como as condições capazes de acelerar, retardar, otimizar e
compensar os resultados das mudanças provocadas pela velhice.
Concepções da Teoria de curso de vida sobre o desenvolvimento na
velhice:
Existe diferença entre velhice normal, ótima e patológica:
Velhice normal - ausência de
doenças físicas ou mentais. Com uma alimentação equilibrada, exercícios,
controle de uso de álcool, drogas e remédios, controle de condições
excessivamente estressantes, ambiente de trabalho mais para saudável, mais e
mais pessoas estão se tornando capazes de chegar aos 60 ou 70 anos, em boas
condições de saúde física e mental.
Velhice ótima - um tipo de
utopia ou ideal científico e cultural. Implica melhores condições pessoais e
sociais para um envelhecimento satisfatório.
Velhice patológica – presença
de doenças crônicas ou de doenças e síndromes típicas da velhice, que implicam
dependência crescente.
Ao se contrastar velhice ótima e patológica, emergem dois cenários
radicalmente diferentes. Um é visão otimista do futuro da velhice,
caracterizada por um estado geral de bem-estar para as futuras coortes etárias
(conjunto de pessoas que compartilham uma mesma característica). Este é o
cenário preferido pela pesquisa médica em gerontologia, que por um lado lida
com a melhoria das condições de vida do idoso até o seu limite de longevidade,
definido hoje como 90 anos, com um desvio padrão de 10 a 15 anos, de modo a
desacelerar o processo patológico normal.
A perspectiva, nesse caso, seria
que as pessoas morressem com saúde.
O outro é uma visão pessimista, embora realística, a do envelhecimento
patológico.
O envelhecimento é uma experiência heterogênea
Uma noção básica, desde que a gerontologia emergiu como campo científico,
é que haveria alto grau de similaridade entre as pessoas, à medida que
envelhecem. Porém, a evidência oferecida pelos estudos longitudinais sobre a
inteligência na velhice não corroborou essa expectativa. A maioria das pessoas
mantém o desempenho, em testes (cerca de 63%, entre os 60 e 70 anos); cerca de
30% mostram estabilidade, e 10 e 7% apresenta ganhos. Na faixa dos
71 aos 80 anos, 52 mostram estabilidade, 40% mostram perdas e 8% ganhos
(Schaie, 1990).
Na velhice ocorrem ganhos e perdas. Há potencialidades e limitações, como em todo o curso do
desenvolvimento, mas o equilíbrio entre os ganhos e perdas torna-se menos
positivo ou mesmo negativo. Faz parte do conhecimento comum que o velho se
torna mais lento e precisa mais tempo que o jovem para se recuperar, após um
período de esforço físico ou mental. Sabe-se que ele também é mais susceptível
a doenças, a acidentes pessoais e ao stress. A área do envelhecimento cognitivo tem sido
especificamente feliz na produção de dados na direção dessa proposição. Assim,
sabe-se que a inteligência fluida declina com a idade, ao passo que a
cristalizada avança. O enfoque de curso de vida postula que o desenvolvimento,
do nascimento à morte, é presidido por uma dinâmica constante de equilibração
entre ganhos e perdas. A implicação cultural de semelhantes dados é que a
velhice pode ser favorecida pela criação de ambientes dotados de equipamentos,
tecnologia e oportunidades educacionais
que permitam aos idosos desenvolver estratégias compensatórias às suas perdas
de desenvolvimento. São exemplos de possibilidades compensatórias o uso de aparelhos
para reduzir déficits sensoriais, a frequência a grupos de lazer e de educação
continuada, o desenvolvimento de novas habilidades intelectuais ou artísticas,
as atividades físicas, a religiosidade, o investimento na especialização
profissional, dentre outras. A sociedade, mediante suas instituições, deve
estar atenta à necessidade de criar boas condições de vida para as pessoas em
todas as idades e para os idosos, naturalmente. Na velhice, o self continua a ser um poderoso e
resiliente sistema de autorregulação de manutenção da integridade. Embora chame
a atenção e desafie o senso comum, mesmo em condições estressantes, de perda e
desamparo, é muito comum que os mais velhos não sejam afetados em sua autoestima,
em seu bem-estar e em seu senso de controle. Isso mostra o enorme poder dos
humanos para reorganizar e reajustar o self,
em resposta a diferentes circunstâncias da vida. Essa capacidade é identificada
com a presença de resiliência psicológica,
isto é, a capacidade de manter ou recuperar os níveis de funcionamento normal,
mesmo em casos de grande ameaça à personalidade e à adaptação normal do
indivíduo.
A resiliência, e sua
contrapartida, a vulnerabilidade psicológica em idosos, depende de fatores tais
como: saúde física real e percebida, renda, nível educacional, estilo de vida,
experiências anteriores de perda ou de desafio à resiliência, rede de suporte
social de que dispõe o indivíduo e vários outros. A capacidade de adaptação ou
resiliência do self é, assim,
uma espécie de capa protetora contra as adversidades associadas ao
envelhecimento.
A Psicologia tem três explicações para essas ocorrências:
O self não é unitário, mas um
sistema de selves e de possíveis selves. Assim, se um fica prejudicado,
outro se desenvolve.
Existe possibilidade de mudança de metas e de níveis de aspiração, em
virtude de conhecimento e aceitação das limitações impostas pela velhice.
Existe possibilidade de encontrar novos pontos e critérios de comparação,
quando mudam as circunstâncias. Ex: na velhice ou na presença de uma incapacidade,
procurar novos grupos de referência, formados por iguais ou então por pessoas
em piores condições são benéficos, porque permitem à pessoa encontrar novos
parâmetros de autoavaliação e de autoeficácia.”
Neri, Anita L..O Desenvolvimento Integral do Homem. Revista do SESC- A Terceira Idade - Ano VI - Nº 10-Julho de 1995 (4-15).