sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

VELHICE ÓTIMA - É POSSÍVEL??

Mesmo antes de chegar na terceira idade sempre me interessei por este assunto e observava bastante o comportamento dos "mais velhos".
Agora que estou em plena "terceira idade" com quase 65 anos, comecei a fazer leituras específicas sobre este último estágio da vida.
Antes de transcrever textos que tenho pesquisado quero expressar como me sinto convivendo com toda esta rica experiência de 64 anos vividos e bem vivenciados!
(Vivenciado -Viver determinado momento de modo que o mesmo tenha um significado profundo).
Sinto-me jovem, não fisicamente, mas mentalmente, porque tenho vontade de viver de maneira intensa, sempre querendo conhecer coisas novas, lugares diferentes. Gosto muito de ler, fazer atividades físicas, artes manuais. Tenho interesse no aprendizado constante e sempre digo que queria ser "três em uma" para poder realizar tantas coisas que tenho vontade! Isto são sintomas de velhice? Não!
Os textos que vou redigir são extraídos de uma coleção "A Terceira Idade" do Sesc que contém vários artigos sobre a valorização da pessoa idosa e vieram bem de encontro com as minhas ideias e concepções sobre este assunto.

"Existem  pessoas que têm mais de 70 anos, aparência e vitalidade de 50 e vice-versa. Dependendo da época em que viveram sua infância e juventude, de seu estilo de vida, educação e maneira peculiar como estruturaram seu curso de vida, diferentes pessoas envelhecem de maneiras diferentes.
Outra noção importante é que a velhice não é um período caracterizado só por perdas e limitações. Embora aumente a probabilidade de doenças e limitações biológicas, é possível manter e aprimorar a funcionalidade nas áreas física, cognitiva e afetiva.
Dominar o segredo da arte de viver, julgar com precisão, aconselhar em decisões que envolvem as incertezas da vida é algo que está reservado especificamente aos idosos (muito embora a idade em si própria não garanta o alcance de altos níveis de sabedoria por todos os indivíduos).
A idade do início da velhice é uma questão que não comporta um critério único e invariável, no tempo ou entre culturas. Além disso, a antropologia do envelhecimento tem chamado a atenção para o fato de a sociedade de consumo promover um mascaramento dos limites etários, uniformizando roupas, programas televisivos e estilo de vida, a partir de um padrão definido e valorizado como jovem.
Schroots e Birren (1990) apresentam uma tríplice visão do envelhecimento, que contempla as influências biológicas, sociais e psicológicas atuantes sobre o desenvolvimento humano. Segundo esses autores é necessário distinguir entre a senescência, a maturidade social e o envelhecimento.
A senescência é referente ao aumento da probabilidade da morte, com o avanço da idade. A maturidade social corresponde à aquisição de papéis sociais e de comportamentos apropriados aos diversos e progressivos grupos etários. O envelhecimento corresponde ao processo de autorregulação da personalidade, e é inerente aos processos de senescência e maturidade social, todos os três referenciados e simbolizados pelo tempo dos calendários e a idade cronológica.
A idade cronológica é, portanto, um parâmetro adotado pelas disciplinas do desenvolvimento, que se movem entre várias noções de tempo: físico, biológico, ecológico, social, psicológico e intrínseco.
Na verdade, estamos diante de um dos grandes desafios da psicologia do envelhecimento, o de conciliar os conceitos de envelhecimento e desenvolvimento na velhice, bem como as condições capazes de acelerar, retardar, otimizar e compensar os resultados das mudanças provocadas pela velhice.

Concepções da Teoria de curso de vida sobre o desenvolvimento na velhice:

Existe diferença entre velhice normal, ótima e patológica:
Velhice normal - ausência de doenças físicas ou mentais. Com uma alimentação equilibrada, exercícios, controle de uso de álcool, drogas e remédios, controle de condições excessivamente estressantes, ambiente de trabalho mais para saudável, mais e mais pessoas estão se tornando capazes de chegar aos 60 ou 70 anos, em boas condições de saúde física e mental.
Velhice ótima - um tipo de utopia ou ideal científico e cultural. Implica melhores condições pessoais e sociais para um envelhecimento satisfatório.
Velhice patológica – presença de doenças crônicas ou de doenças e síndromes típicas da velhice, que implicam dependência crescente.
Ao se contrastar velhice ótima e patológica, emergem dois cenários radicalmente diferentes. Um é visão otimista do futuro da velhice, caracterizada por um estado geral de bem-estar para as futuras coortes etárias (conjunto de pessoas que compartilham uma mesma característica). Este é o cenário preferido pela pesquisa médica em gerontologia, que por um lado lida com a melhoria das condições de vida do idoso até o seu limite de longevidade, definido hoje como 90 anos, com um desvio padrão de 10 a 15 anos, de modo a desacelerar o processo patológico normal.
A perspectiva, nesse caso, seria que as pessoas morressem com saúde.
O outro é uma visão pessimista, embora realística, a do envelhecimento patológico.
O envelhecimento é uma experiência heterogênea
Uma noção básica, desde que a gerontologia emergiu como campo científico, é que haveria alto grau de similaridade entre as pessoas, à medida que envelhecem. Porém, a evidência oferecida pelos estudos longitudinais sobre a inteligência na velhice não corroborou essa expectativa. A maioria das pessoas mantém o desempenho, em testes (cerca de 63%, entre os 60 e 70 anos); cerca de 30% mostram estabilidade,  e 10 e 7% apresenta ganhos. Na faixa dos 71 aos 80 anos, 52 mostram estabilidade, 40% mostram perdas e 8% ganhos (Schaie, 1990).
Na velhice ocorrem ganhos e perdas. Há potencialidades e limitações, como em todo o curso do desenvolvimento, mas o equilíbrio entre os ganhos e perdas torna-se menos positivo ou mesmo negativo. Faz parte do conhecimento comum que o velho se torna mais lento e precisa mais tempo que o jovem para se recuperar, após um período de esforço físico ou mental. Sabe-se que ele também é mais susceptível a doenças, a acidentes pessoais e ao stress.  A área do envelhecimento cognitivo tem sido especificamente feliz na produção de dados na direção dessa proposição. Assim, sabe-se que a inteligência fluida declina com a idade, ao passo que a cristalizada avança. O enfoque de curso de vida postula que o desenvolvimento, do nascimento à morte, é presidido por uma dinâmica constante de equilibração entre ganhos e perdas. A implicação cultural de semelhantes dados é que a velhice pode ser favorecida pela criação de ambientes dotados de equipamentos, tecnologia e  oportunidades educacionais que permitam aos idosos desenvolver estratégias compensatórias às suas perdas de desenvolvimento. São exemplos de possibilidades compensatórias o uso de aparelhos para reduzir déficits sensoriais, a frequência a grupos de lazer e de educação continuada, o desenvolvimento de novas habilidades intelectuais ou artísticas, as atividades físicas, a religiosidade, o investimento na especialização profissional, dentre outras. A sociedade, mediante suas instituições, deve estar atenta à necessidade de criar boas condições de vida para as pessoas em todas as idades e para os idosos, naturalmente. Na velhice, o self continua a ser um poderoso e resiliente sistema de autorregulação de manutenção da integridade. Embora chame a atenção e desafie o senso comum, mesmo em condições estressantes, de perda e desamparo, é muito comum que os mais velhos não sejam afetados em sua autoestima, em seu bem-estar e em seu senso de controle. Isso mostra o enorme poder dos humanos para reorganizar e reajustar o self, em resposta a diferentes circunstâncias da vida. Essa capacidade é identificada com a presença de resiliência  psicológica, isto é, a capacidade de manter ou recuperar os níveis de funcionamento normal, mesmo em casos de grande ameaça à personalidade e à adaptação normal do indivíduo.
A  resiliência, e sua contrapartida, a vulnerabilidade psicológica em idosos, depende de fatores tais como: saúde física real e percebida, renda, nível educacional, estilo de vida, experiências anteriores de perda ou de desafio à resiliência, rede de suporte social de que dispõe o indivíduo e vários outros. A capacidade de adaptação ou resiliência do self  é,  assim, uma espécie de capa protetora contra as adversidades associadas ao envelhecimento.
A Psicologia tem três explicações para essas ocorrências:
O self não é unitário, mas um sistema de selves e de possíveis selves. Assim, se um fica prejudicado, outro se desenvolve.
Existe possibilidade de mudança de metas e de níveis de aspiração, em virtude de conhecimento e aceitação das limitações impostas pela velhice.
Existe possibilidade de encontrar novos pontos e critérios de comparação, quando mudam as circunstâncias. Ex: na velhice ou na presença de uma incapacidade, procurar novos grupos de referência, formados por iguais ou então por pessoas em piores condições são benéficos, porque permitem à pessoa encontrar novos parâmetros de autoavaliação e de autoeficácia.”


 Neri, Anita L..O Desenvolvimento Integral do Homem. Revista do SESC- A Terceira Idade - Ano VI - Nº 10-Julho de 1995 (4-15).