quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Crônicas de Nárnia

 A AVENTURA DE EUSTÁQUIO
Quem já assistiu o filme ou leu o livro "Crônicas de Nárnia" de C.S. Lewis vai lembrar deste personagem: Eustáquio. Este trecho do livro relata a transformação de dragão para ser humano regenerado quando Eustáquio tem um encontro verdadeiro com   Aslam, o leão que simboliza a figura de Jesus. 
O relato é surpreendente porque mostra, simbolicamente,  o que acontece com a pessoa envolvida pelo amor de Cristo. Estáquio tenta, sozinho,  se livrar da couraça do dragão (o velho homem) e não consegue, entregando-se aos cuidados de Aslam.  Sofre uma dor horrível ao sentir-se tocado profundamente em seu coração, mas depois é lavado,  liberto de toda dor que sentia e  restituído de suas forças, trajando uma nova roupagem, presente de Aslam!!
Leiam a narrativa, percebendo a analogia existente em cada detalhe do relato, mostrando a ação de Jesus
no coração do ser corrompido pelo pecado, transformando-o em um novo ser.
"Se alguém está em Cristo, é nova criatura". 2 Coríntios 5:17


... O prazer (absolutamente inédito) de gostarem dele e, ainda mais, de ele gostar dos outros impedia que caísse no desespero. Porque era horrível ser dragão. Estremecia sempre que, ao voar, se via refletido num lago. Odiava as enormes asas de morcego, o dorso denteado e as ferozes garras recurvadas....
Vou lhe contar como deixei de ser dragão, disse Estáquio para Edmundo.
Estava ali deitado, pensando na minha vida, quando de repente...
Olhei e vi a última coisa que esperava ver: um enorme leão avançando para mim. E era estranho porque, apesar de não haver lua, por onde o leão passava havia luar. Foi chegando, chegando. E eu, apavorado. Você talvez pense que eu, sendo um dragão, poderia derrubar a fera com a maior facilidade. Mas não era desse tipo de medo. Não temia que me comesse, mas tinha medo dele... não sei se está entendendo o que quero dizer... Chegou pertinho de mim e me olhou nos olhos. Fechei os meus, mas não adiantou nada, porque ele me disse que o seguisse...
Levou-me por um caminho muito comprido, para o interior das montanhas. E o halo sempre envolvendo-o. Finalmente chegamos ao alto de uma montanha que eu nunca vira antes, no cimo da qual havia um jardim. No meio do jardim havia uma nascente de água. Vi que era uma nascente porque a água brotava do fundo, mas era muito maior do que a maioria das nascentes – parecia uma grande piscina redonda, para a qual se descia em degraus de mármore. Nunca tinha água tão clara e achei que me banhasse ali talvez passasse a dor na pata. Mas o leão me disse para tirar a roupa primeiro. Para dizer a verdade, não sei se falou em voz alta ou não. Ia responder que não tinha roupa, quando me lembrei que os dragões são, de certo modo, parecidos com as serpentes, e estas largam a pele. “Sem dúvida alguma é o que ele quer”, pensei.
Assim, comecei a esfregar-me, e as escamas começaram a cair de todos os lados. Raspei ainda mais fundo e, em vez de caírem as escamas, começou a cair a pele toda, inteirinha, como depois de uma doença ou como a casca de uma banana. Num minuto, ou dois, fiquei sem pele. Estava lá no chão, meio repugnante. Era uma sensação maravilhosa. Comecei a descer à fonte para o banho. Quando ia enfiando os pés na água, vi que estavam rugosos  e cheios de escamas como antes. “Está bem”, pensei, “estou vendo que tenho outra camada  debaixo da primeira e também tenho de tirá-la”. Esfreguei-me de novo no chão e mais uma vez a pele se descolou e saiu; deixei-a então ao lado da outra e desci de novo para o banho. E aí aconteceu exatamente a mesma coisa. Pensava: “Deus do céu! Quantas peles terei de despir? Como estava  louco para molhar a pata, esfreguei-me pela terceira vez e tirei uma terceira pele. Mas ao olhar-me na água vi que estava na mesma. Então o leão disse (mas não sei se falou): “Eu tiro a sua pele”. Tinha muito medo daquelas garras, mas, ao mesmo tempo, estava louco para ver-me livre daquilo. Por isso me deitei de costas e deixei que ele tirasse a minha pele.
A primeira unhada que deu foi tão funda que julguei ter me atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia agüentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como quem tira um espinho de um lugar doloroso. Dói pra valer, mas é bom ver o espinho sair.
Tirou-me aquela coisa horrível, como eu achava que tinha feito das outras vezes, e lá estava ela sobre a relva, muito mais dura e escura do que as outras. E ali estava eu também, macio e delicado como um frango depenado e muito menor do que antes.
Nessa altura agarrou-me – não gostei muito, pois estava todo sensível sem a pele – e atirou-me dentro da água. A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia. Quando comecei a nadar, reparei que a dor do braço havia desaparecido completamente.
Compreendi a razão. Tinha voltado a ser gente. Você vai me achar um cretino se disser o que senti quando vi os meus braços. Não são mais musculosos do que os de Caspian, eu sei que não são muito musculosos, nem se podem comparar com os de Caspian, mas morri de alegria ao vê-los. Depois de certo tempo, o leão me tirou da água e vestiu-me.
Vestiu-me com uma roupa nova.
Seria bonito e muito próximo da verdade dizer que, dali por diante, Estáquio mudou completamente. Para ser rigorosamente exato, começou a mudar. Às vezes tinha recaídas. Em certos dias era ainda um chato.
 Mas a cura havia começado. 

Um comentário:

  1. Mãe! Muito lindo!
    Que Deus continue a tirar nossas escamas que atrapalham nosso objetivo de vida junto a Ele!
    Beijo

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